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Shunt portossistêmico em Yorkshire: conheça a doença hepática comum em cachorros pequenos

Publicado - 28 Dezembro 2022 - 10h00

Atualizado - 27 Maio 2024 - 18h38

O shunt portossistêmico é uma doença bastante comum em cães pequenos, como os da raça Yorkshire. Essa condição hepática é bastante perigosa porque, apesar de começar no fígado, pode impactar todo o organismo do animal. O quadro pode trazer, inclusive, consequências para o sistema nervoso. Mesmo que a doença não seja tão rara em cachorros pequenos e seja uma das mais comuns em Yorkshire, esse problema ainda é desconhecido por muitos tutores. Afinal, o que shunt portossistêmico em cães? Quais são suas causas e sinais clínicos? É possível tratar o shunt em cães? E como podemos evitar que essa doença apareça no cachorro? O Patas da Casa conversou com a médica veterinária Amanda Carloni, que tirou todas as dúvidas sobre o shunt portossistêmico em cães. Confira!

O que é shunt portossistêmico?

O shunt portossistêmico é uma doença hepática relacionada a uma anomalia na circulação sanguínea. A condição também é conhecida como desvio portossistêmico (DPS) ou anomalia vascular portossistêmica. Para entender do que se trata essa doença, é preciso compreender um pouco sobre a anatomia canina. “O fígado do feto possui a sua função limitada. Assim, como forma de poupá-lo e protegê-lo, existe um grande vaso chamado o ducto venoso, que desvia o sangue para que ele não passe pelo fígado”, explica a veterinária Amanda Carloni. Ela conta que esse ducto venoso se fecha cerca de 3 a 10 dias após o parto, pois o órgão já está bem desenvolvido. Quando isso acontece, o sangue que vem da veia porta começa a passar pelo fígado, órgão que tem a função de transformar determinadas substâncias em versões “menos tóxicas''. Assim, elas podem ser eliminadas do organismo sem problemas.

Porém, Amanda explica que em um quadro de shunt portossistêmico, esse ducto venoso não é fechado depois que o fígado se desenvolve, o que atrapalha a circulação do sangue. “O shunt ou desvio portossistêmico consiste na permanência do ducto venoso ou na existência de outros vasos anômalos. Isso faz com que o sangue portal (da veia porta) não passe pelo fígado e vá diretamente para a circulação sistêmica; levando consigo as substâncias em suas versões 'mais tóxicas'”, esclarece.

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O que causa o shunt portossistêmico em cães?

O shunt em cães pode ser adquirido ou congênito. No tipo adquirido, o desvio portossistêmico se desenvolve ao longo da vida quando o cão sofre de hipertensão portal, uma consequência de doenças como hepatite crônica e fibrosa. Já o shunt em cães congênito é o tipo mais comum. Nesse caso, não há uma causa bem estabelecida. O ducto venoso do cão simplesmente permanece aberto. O shunt portossistêmico é uma doença muito mais presente em cães de pequeno porte, como o Yorkshire. “Em cães, o shunt portossistêmico é mais comum nas raças puras do que nas mestiças, sendo as raças miniaturas as mais acometidas, como por exemplo: Schnauzer, Yorkshire Terrier, Poodle, Maltês, Shih Tzu, Dachshund, Irish Wolfhound, Old English Sheepdog e Cairn Terrier”, esclarece Amanda.

 

Yorkshire em cima de coberta dentro de caixa
O shunt em cães pode causar letargia, andar compulsivo, perda de coordenação e sangue na urina

 

O cachorro com shunt portossistêmico passa a ter toxinas circulando em seu organismo

O desvio portossistêmico é um problema muito sério porque como o fígado não filtra o sangue portal (já que ele não passa pelo órgão) as substâncias tóxicas continuam presentes nele. Esse sangue passa por todo o sistema circulatório e atravessa diversos órgãos do corpo. Isso quer dizer que as toxinas começam a se espalhar por todo o organismo e, como consequência, ele pode sofrer problemas bastante sérios. Uma dessas toxinas que continuam presentes no sangue em quadros de shunt portossistêmico é a amônia. Ela é liberada do intestino e, em cães saudáveis, passa pelo fígado para ser transformada em ureia.

“Contudo, por causa do desvio portossistêmico, a amônia vai direto para a circulação sistêmica. Por ser neurotóxica, pode resultar em encefalopatia hepática (perda da função cerebral devido a falha na remoção de toxinas do sangue por causa de danos no fígado). Além disso, o sangue cheio de amônia vai passar pelos rins. Porém, o excesso de amônia, em vez de ser eliminado junto com a urina, vai começar a se acumular dando origem às famosas pedras no rim, e isto pode estar associado à ocorrência de infecções bacterianas no trato urinário”, explica a especialista. 

Quais os sinais clínicos do shunt portossistêmico em cães?

Como o desvio portossistêmico pode afetar diferentes partes do corpo, os sinais clínicos são bem diversos. Dentre os principais, Amanda destaca aqueles que estão relacionados ao acometimento do sistema nervoso. “Os cães apresentam: andar compulsivo, pressionam a cabeça contra objetos, perda da coordenação de movimentos musculares voluntários, letargia e torpor. Além disso, são observados outros sinais clínicos como: diarreia, vômito, aumento na frequência da micção (poliúria), excessiva sensação de sede (polidpsia) e sangue na urina (hematúria) devido à formação de pedras nos rins”, esclarece a especialista. 

Como se obtém o diagnóstico de shunt em cães?

É muito importante que o tutor leve o animal ao veterinário assim que perceber os sinais clínicos mencionados. No consultório, o médico veterinário vai avaliar essas manifestações clínicas e o histórico do paciente. Para confirmar o diagnóstico de shunt em cães, é necessário realizar alguns exames, dentre eles exames de sangue, tomografia computadorizada e ultrassonografia

Como o shunt hepático em cães pode ser tratado?

O tratamento de casos de shunts portossistêmicos deve ser iniciado logo após a confirmação do diagnóstico. Ele pode ser feito de forma clínica e/ou com intervenção cirúrgica. O tratamento clínico de shunt hepático ajuda a deixar o paciente estável. Amanda explica como esse tratamento pode ser feito. “A fluidoterapia pode ser realizada para corrigir a desidratação, desequilíbrios eletrolíticos e ácido-básicos e também para a manutenção da glicose sanguínea. Antibióticos que atuam na microbiota produtora de urease podem ser utilizados para diminuir a quantidade de ureia no sangue. A lactulose também pode ser utilizada, pois age no aumento da eliminação do conteúdo intestinal e promove a ‘acidificação’ do lúmen intestinal, favorecendo a transformação de amônia em amônio (que é menos tóxico)”, esclarece. 

Além disso, também é importante que os cães com shunt portossistêmico passem por um manejo alimentar e recebam uma dieta mais proteica. “A restrição proteica pode causar uma desnutrição proteico-calórica quando esta for realizada por longos períodos. Portanto, é preconizada uma alimentação com proteínas digestíveis ofertada em pequenas quantidades”, conta.

 

Yorkshire sendo examinada em consultório veterinário
Para tratar shunt portossistêmico em cães, pode ser preciso realizar cirurgia, tomar remédios e mudar a dieta

 

O cão com shunt portossistêmico congênito pode precisar de cirurgia 

A cirurgia em quadros de shunt em cães pode ser necessária para corrigir de vez o problema. Amanda explica que a intervenção cirúrgica só deve ser realizada em casos de shunt portossistêmico em cães do tipo congênito. Ela não é recomendada para cães com shunt adquirido: “A técnica mais preconizada é aquela que oclui o vaso de maneira gradativa, fazendo com que o fígado possa se adaptar à nova pressão pois, se a oclusão for abrupta, pode ocorrer hipertensão portal aguda”, explica a especialista. Antes da cirurgia, o cão com shunt hepático deve passar por diversos exames. Além disso, é importante que o animal passe pelo tratamento clínico, pois ele deixa o animal estável para realizar a cirurgia sem problemas. Vale ressaltar que a anestesia para cachorro deve ser utilizada durante o procedimento. 

Cães com predisposição a shunt portossistêmico devem ser monitorados desde a gestação

Como não se sabe exatamente o que faz com que o shunt portossistêmico se desenvolva em cães, a veterinária Amanda explica que o maior cuidado que um tutor pode ter é prestar bastante atenção durante a gestação de cachorro, para que a saúde dos filhotes seja monitorada desde cedo. Ela ressalta que esse cuidado deve ser ainda maior em raças predispostas, como o Yorkshire. Amanda afirma também que algumas outras medidas também podem ajudar a evitar casos de shunt em cães: “É preciso ter cuidado também com o uso de medicamentos e suplementos sem orientação profissional, os quais podem favorecer o desenvolvimento inadequado dos fetos, bem como a ocorrência de diversas anomalias, como as vasculares. Além disso, não se deve reproduzir cães que possuem a doença, mesmo que tenham sido devidamente tratados”, esclarece. 

Yorkshire: doenças comuns da raça vão além do shunt portossistêmico 

Como explicamos, o shunt portossistêmico em cães é mais comum nas raças de pequeno porte, como o Yorkshire. Porém, esse cachorro pequeno peludo também tem predisposição a outros problemas de saúde que merecem atenção. Quando falamos da raça Yorkshire, doenças oculares como atrofia progressiva de retina e displasia de retina são sempre lembradas. Além disso, a dentição dupla também é um problema frequente no Yorkshire. Doenças mais comuns da raça também incluem aquelas relacionadas ao seu tamanho, como a luxação de patela. Por ser bem pequeno, há um risco maior de problemas nos ossos e também de sofrer acidentes. Por isso, é importante sempre ficar atento para evitar quedas em cães da raça, principalmente em cães Yorkshire idosos. Doenças como hipoglicemia e colapso de traqueia também podem ser frequentes na raça. 

É muito importante ter cuidados com a saúde do cãozinho desde cedo. Aplicar todas as vacinas para cachorro, manter a vermifugação em dia, fazer visitas regulares ao veterinário, oferecer uma alimentação balanceada e garantir uma rotina de exercícios são medidas básicas que permitem uma boa qualidade de vida ao Yorkshire. Sintomas de doenças, sejam eles quais forem, jamais devem ser ignorados e o tutor precisa levar o pet ao veterinário sempre que estranhar algum comportamento. Com esses cuidados, o Yorkshire pode viver até os 17 anos, sendo considerado, inclusive, uma das raças de cachorro que vivem mais tempo.

Redação: Maria Luísa Pimenta 

Edição: Mariana Fernandes

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