Gato

Toxoplasmose: veterinária explica tudo sobre a chamada "doença do gato"

Publicado - 31 Março 2022 - 19h23

Atualizado - 11 Abril 2024 - 14h35

Foto da Vansessa Zimbre - Veterinária especializada em Medicina Felina

Vanessa Zimbres / Veterinária especializada em Medicina Felina

CRMV CRMV: SP 19672

Formada em Medicina Veterinária pela Universidade Federal de Uberlândia; pós-graduada em Medicina de Felinos pela Universidade Anhembi Morumbi. Especializada em Clínica Médica e Cirúrgica de Felinos pela Universidade Castelo Branco. Membra da AAFP (American Association os Feline Practitioners).

Foto da Juliana Melo - Repórter

Juliana Melo / Repórter

Jornalista formada pela Facha (Faculdades Integradas Hélio Alonso). Sempre amei o universo pet e meu sonho sempre foi ter um cachorro ou gato, mas essa ainda é uma realidade um pouco distante pra mim. Me sinto um pouco Felícia perto dos bichinhos, e acho fantástico poder entender um pouco melhor o comportamento deles e ajudar tantos tutores por aí!

A oportunidade de entrar na equipe do Patas da Casa foi incrível, porque apesar de não ter um pet, sempre tive muita vontade de conhecer e compreender melhor esse universo. Hoje me sinto praticamente uma ‘expert’ em comportamento de cães e gatos e uma das maiores incentivadoras da adoção animal.

• Filme com animal preferido: “Sempre ao Seu Lado”
• Uma raça de cachorro: Dachshund
• Uma raça de gato: Maine Coon
• A curiosidade favorita sobre cachorros: A maneira como um cão se comporta depende principalmente da criação que ele recebe
• A curiosidade favorita sobre gatos: Os gatos enxergam os humanos como seus semelhantes (basicamente como se fôssemos gatos gigantes)
• Sobre o que mais gosta de escrever no universo pet: Comportamento animal
• Um aprendizado: Adotar um cachorro ou gato é uma das decisões mais bonitas que alguém pode tomar, mas que precisa ser feita com muita responsabilidade
• Nome de pet favorito: Bilbo

A toxoplasmose, popularmente conhecida como a “doença do gato”, é uma das maiores preocupações de quem convive com um bichano. Isso porque, apesar de ser bem conhecida no universo humano, a relação que existe entre a toxoplasmose e gato é encarada como um perigo, já que os felinos são considerados os hospedeiros definitivos da doença. Ou seja, isso significa que o parasita responsável pela toxoplasmose - Toxoplasma gondii - precisa do gato para sobreviver e se multiplicar.

Mas como será que ocorre o contágio da doença? O arranhão de gato transmite toxoplasmose? Como essa doença se desenvolve e contamina os seres humanos e outros animais? Para explicar todas essas questões, o Patas da Casa entrevistou a médica veterinária Vanessa Zimbres, que é especializada em medicina felina. Tire todas as suas dúvidas sobre o assunto a seguir!

O que é a toxoplasmose em gato e como a doença se desenvolve?

Segundo a veterinária, a toxoplasmose felina é uma doença causada por um protozoário chamado Toxoplasma gondii que afeta a maioria dos animais de sangue quente. Trata-se de um parasita intracelular que precisa, obrigatoriamente, de outro ser vivo para se reproduzir. Esses seres vivos são denominados hospedeiros, que podem ser definitivos ou intermediários.

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Os gatos, por sua vez, são os hospedeiros definitivos da doença. Logo, os felinos são os únicos indivíduos onde o parasita realiza a reprodução e gera a produção de oocistos (ovos), que são a forma infectante da toxoplasmose. Eles são eliminados nas fezes e é assim que infectam outros hospedeiros.

Mas como a doença se desenvolve, afinal? No caso dos humanos, Vanessa explica: “A infecção é geralmente assintomática em pessoas imunocompetentes. No entanto, de 10% a 20% delas podem apresentar sintomas de uma leve gripe, que são auto limitantes e não requerem tratamento. Em raros casos pode ocorrer infecção ocular com perda da visão. Já pessoas com o sistema imune comprometido podem desenvolver sinais mais graves que envolvem o sistema nervoso, retina e pulmões.”

Por que a toxoplasmose é conhecida como a "doença do gato"?

Já vimos que no ciclo de vida do parasita Toxoplasma, o gato é considerado o hospedeiro definitivo - o que significa que, para que o parasita se torne infectante, ele precisa passar pelo organismo de um membro da família dos felídeos. Isso, por si só, já é algo que contribui para a fama de “doença de gato”, mas ainda assim é importante entender como acontece o ciclo reprodutivo do protozoário e qual o papel dos felinos nesse cenário. 

“O gato se contamina com o Toxoplasma ao ingerir formas infectantes ou imaturas dele em água contaminada, carne crua contaminada ou presas, como pássaros e roedores, também contaminados. Uma vez que o gato se contamina, ele pode, em um único episódio da vida, eliminar a forma não infectante do Toxoplasma nas fezes, durante um período de 1 a 3 semanas. Essas formas não infectantes levam de 1 a 5 dias no ambiente (em temperatura e umidade propícias) para se tornar infectante e, a partir daí, pode contaminar a água, material vegetal e ser ingerido pelos outros animais", explica a médica veterinária.

Evitar dar carne crua para gatos é um dos principais meios de prevenir a doença. Vanessa complementa: "Os outros animais, quando se contaminam, irão apresentar uma forma não infectante do parasita, que vai se instalar em tecido muscular e nervoso. Por isso, o gato se contamina ao consumir a carne dessas presas contaminadas.”

toxoplasmose: gato bebendo água na rua
Para contrair a toxoplasmose, gato precisa ingerir carne crua, água ou presa contaminadas

Gato com toxoplasmose: é verdade que todos os felinos transmitem a doença?

Para disseminar a toxoplasmose, gato acaba tendo um papel importante na reprodução do parasita, mas isso não significa que todos os felinos vão transmitir a doença. O gato precisa estar infectado para isso acontecer. “O gato contaminado pode eliminar o parasita nas fezes em um episódio da vida dele, durante o período de 1 a 3 semanas. Essas fezes, para se tornarem infectantes, precisam de mais 1 a 5 dias no ambiente e, após isso, devem ser ingeridas para contaminar alguém”, justifica a médica.

Por isso, se você já se perguntou se arranhão de gato transmite toxoplasmose, a resposta é não. O contato com as fezes - direto ou indireto - é a única forma de contágio. “Acariciar um gato, pegar no colo, escovar, não vai transmitir toxoplasmose e arranhões também não. Somente pegamos toxoplasmose do gato se ingerirmos as fezes contaminadas dele”.

Como a toxoplasmose é transmitida para humanos?

Conforme Vanessa destaca, as principais formas de contaminação em humanos são pela ingestão de água e alimentos contaminados com fezes de felídeos contaminados e pela ingestão de carnes cruas ou mal passadas, que estejam contaminadas. Inclusive, o gato se contamina dessa mesma forma. “Outras formas de contaminação de humanos podem ser em transfusão sanguínea, transfusão de órgãos, transplacentária (da mãe para o feto), manipulando matéria vegetal ou solo contaminados por fezes de gatos e até mesmo manipulando carne crua contaminada”.

Por ser uma doença polêmica, principalmente por conta da forma congênita da toxoplasmose, gato muitas vezes é visto como o grande “vilão”, o que é um equívoco.  Mas para quem acredita que gravidez é motivo para abandono de gatos, a resposta é não: não há necessidade de doar o seu gatinho durante a gestação. Se o animal tem hábitos caseiros, nenhum acesso à rua e só se alimenta de ração ou alimentos cozidos, ele não corre o risco de pegar nem transmitir a toxoplasmose.

Sem esses cuidados, porém, é difícil garantir isso, de forma que a toxoplasmose pode oferecer um risco à saúde da gestante e do seu filho. Quando a mãe adquire o protozoário durante a gestação, é importante ficar alerta: “A gravidade da doença para o feto varia do trimestre em que a infecção foi adquirida, sendo a infecção ocular o sinal mais comum de toxoplasmose congênita”.

Como identificar um gato com toxoplasmose?

A toxoplasmose em gatos não é um quadro exatamente comum. Isso acontece porque, apesar de ser o hospedeiro definitivo, a doença raramente se desenvolve no organismo do pet. Ainda assim, vale ficar atento a qualquer alteração que indique um sintoma de toxoplasmose. “Gatos com o sistema imune comprometido, como gatinhos jovens ou portadores do vírus da imunodeficiência (FIV) e/ou leucemia viral felina (FeLV), podem apresentar lesões que dependerão da localização onde o parasita se instalou. As formas mais comuns envolvem o sistema nervoso, olhos, pulmões e fígado”, revela a médica.

E para quem se pergunta se a doença do gato tem cura, a resposta é sim! “Dependendo do órgão afetado, o tratamento da toxoplasmose, que envolve o uso de antibióticos para gatos e anti-inflamatórios, apesar de longo, é bem sucedido”. Mas lembre-se: o diagnóstico, bem como a prescrição dos medicamentos, devem ser feitos por um profissional qualificado. A ideia de automedicar o animal de estimação não é uma opção.

Conviver com um gato com toxoplasmose não é sinônimo de contaminação

Independentemente da região que foi afetada pelo parasita - como a toxoplasmose ocular -, gato nem sempre infecta as pessoas que convivem com ele. Os hábitos de higiene contam muito nessas horas, impedindo a contaminação. “Como leva no mínimo 24 horas para a forma não infectante do parasita se tornar infectante, deve-se remover frequentemente as fezes da caixa de areia do gato, usar luvas para maior segurança e, em seguida, lavar as mãos. Ou seja: hábitos básicos de higiene”.

Então mesmo que o seu gatinho seja diagnosticado com a “doença de gato”, não se preocupe: conviver com o bichano não significa que você será infectado com o Toxoplasma, mesmo porque os felinos eliminam os parasitas apenas por um curto período de tempo. “É improvável ser exposto ao parasita ao tocar em um gato infectado, porque eles não carregam o parasita em sua pele”.

Saiba quais são os cuidados para prevenir a toxoplasmose em gatos

Parece óbvio, mas o cuidado mais importante para prevenir a toxoplasmose em gatos é se atentar a alimentação do animal, oferecendo sempre uma ração de boa qualidade e petiscos que sejam apropriados para o organismo felino. Apesar da vontade de mimar os bichanos de vez em quando com uma comida diferente, sempre se atente ao que o gato pode comer ou não para não cair no erro. Também não se esqueça de disponibilizar água limpa e fresca o tempo todo para esses animais.

É comum que muitos tutores se perguntem se pode dar carne crua para gato, por exemplo, mas a resposta é não, principalmente pelo risco de contaminação da toxoplasmose e de outras doenças. Além disso, mesmo com o instinto predador dos felinos, não se pode deixar que eles cacem outros animais. Quando o gato come barata e outros bichinhos - como pássaros e roedores -, fica mais suscetível a contrair doenças como a toxoplasmose. Por isso, o melhor a se fazer é direcionar esses instintos de caça para brinquedos apropriados.

Redação: Juliana Melo

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