Quando o assunto é comportamento canino, muita gente ainda acredita que a agressividade em cães tem uma relação direta com certas raças. No entanto, um estudo recente, publicado na revista científica Scientific Reports, traz uma explicação mais profunda (e bem preocupante) sobre os fatores que realmente tornam um cachorro bravo na vida adulta.
Os pesquisadores observaram que os animais que passam por agressões e maus-tratos ainda nos primeiros seis meses de vida têm muito mais chances de se tornarem cachorros reativos, medrosos ou agressivos. E isso vale tanto para atos de violência direta quanto para ambientes estressantes, negligência e punições constantes.
Por que os primeiros meses são tão decisivos no comportamento canino?
O período inicial da vida de um cachorro funciona como uma espécie de “janela de formação”, em que o cérebro está absorvendo informações sobre o mundo e definindo padrões de comportamento. Se, nesse momento, o animal é submetido a violência, falta de segurança ou excesso de punições, ele tende a crescer sempre em estado de alerta. E essa resposta constante ao medo pode evoluir para reatividade, rosnados, mordidas e dificuldade de socialização.
A partir das análises, os especialistas explicam que o cachorro filhote exposto a agressões fecha o ciclo de aprendizado de forma distorcida: eles entendem que o mundo é um lugar perigoso e que atacar antes de ser atacado é uma forma de defesa.
Segundo os pesquisadores, o ambiente em que os pets crescem, o tipo de interação que recebem e o estilo de manejo do tutor influenciam diretamente no modo como vão se comportar ao longo da vida. E esses fatores podem ser ainda mais impactantes em algumas raças que foram historicamente criadas para guardar gado ou abater animais selvagens.

E como isso afeta a vida adulta do cão?
O estudo revela que esses cães costumam ter mais dificuldade para confiar nos tutores, apresentam respostas exageradas a estímulos simples e podem reagir mal ao contato com outros animais ou pessoas. Em muitos casos, também se tornam cachorros ansiosos, inseguros e propensos a desenvolver comportamentos destrutivos.
Por outro lado, quando um filhote é criado com estímulos positivos, afeto, previsibilidade e socialização adequada, as chances de desenvolver agressividade diminuem drasticamente. Desta forma, o achado reforça a importância de uma criação responsável na construção de um comportamento equilibrado em cães.
Dá para reverter comportamentos agressivos em cães?
Lidar com um cachorro agressivo pode ser bastante desafiador, mas a boa notícia é que muitos casos podem ser revertidos. Cães que passaram por situações traumáticas podem melhorar bastante com apoio profissional, incluindo adestradores positivos, veterinários comportamentalistas e rotinas estruturadas que tragam segurança ao dia a dia. Paciência, consistência e muito carinho também são fundamentais para que o animal reaprenda a se sentir tranquilo.
Mas o estudo reforça um ponto importante: prevenir é sempre melhor do que corrigir. Garantir um ambiente amoroso e seguro desde cedo é o caminho mais eficaz para formar cães tranquilos, sociáveis e confiantes, independentemente da raça. E isso é bom não só para os animais, mas também para toda a sociedade que convive com eles.