A castração de cachorro e gato é uma medida necessária não apenas para diminuir o número de animais abandonados nas ruas, como também para cuidar da saúde e bem-estar desses bichinhos. Além de evitar que cães e gatos engravidem, o procedimento ajuda a prevenir várias doenças e até melhora o comportamento dos pets. No entanto, quando o assunto é castrar gato e cachorro, muitos tutores ficam apreensivos e com receio de submeter os animais à intervenção cirúrgica.

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Como uma alternativa à cirurgia, a médica veterinária brasileira Carolina Madeira Lucci, em conjunto com outros pesquisadores da Universidade de Brasília (UnB), desenvolveu uma técnica de castração de cães e gatos que não envolve procedimentos cirúrgicos. “O método ainda está em fase experimental, e por isso não está disponível. Agora que temos certeza da efetividade e segurança é que vamos começar a aplicar em gatos (de maneira controlada) e posteriormente em cães”, explica. Saiba mais sobre o assunto a seguir!

Castração de animais: entenda como funciona o método de esterilização não-cirúrgica

A pesquisa, intitulada “Alternativas nanotecnológicas para a castração não cirúrgica de animais machos”, é baseada em um método muito simples e prático de ser feito. Nesse tipo de castração, o cachorro ou gato macho terá nano partículas de óxido de ferro injetadas nos testículos. Em seguida, duas técnicas de esterilização são possíveis: a aplicação de um campo magnético ou de uma luz LED no local. O animal deve estar sedado durante todo o procedimento, que dura em torno de 20 minutos.

No primeiro caso, a aplicação de campo magnético (magneto hipertermia) é feita na região dos testículos, então as nano partículas geram calor apenas no local da aplicação. Já na segunda técnica, um LED infravermelho é utilizado e as nano partículas transformam a luz em calor, possibilitando a esterilização. Em ambos os procedimentos a temperatura alcança cerca de 45 graus, mas não há risco de queimaduras.

Um ponto importante é que a castração de cães ou gatos não-cirúrgica é direcionada exclusivamente para os machos. O motivo disso é a facilidade de acesso aos testículos, que ficam para fora do corpo do animal. Além do mais, as gônadas masculinas também possuem mais sensibilidade ao calor, e sabe-se que altas temperaturas podem prejudicar o processo de produção de espermatozoides, deixando o animal infértil. Ou seja, nessa metodologia só é possível fazer a castração de gato macho ou de cachorro macho. As fêmeas não estão incluídas no processo porque os ovários ficam localizados em uma área mais interna do corpo e não apresenta a mesma sensibilidade térmica.

Para tirar as principais dúvidas sobre o método de castração de gato e cachorro não-cirúrgico, entrevistamos a dra. Carolina Lucci, que é coordenadora do projeto na UnB. Veja abaixo o que ela nos contou!

Patas da Casa: Como a injeção de nano partículas de óxido de ferro atua nos testículos dos animais, sendo capaz de castrar cachorro e gato?

Carolina Lucci: As nano partículas de óxido de ferro que utilizamos possuem a capacidade de responder a um campo magnético externo, ou a uma luz de LED de comprimento de onda específico, produzindo calor. Este calor (em torno de 45 graus) é gerado somente onde estão as nano partículas, e se propaga de dentro para fora dos testículos. 

Como os testículos são órgãos sensíveis ao calor (mais do que qualquer outro no organismo) e o processo de produção dos espermatozoides só ocorre a uma temperatura mais baixa que a temperatura corporal, este aquecimento temporário (por 15 minutos) causa a destruição das células que dão origem aos espermatozoides, levando à esterilidade definitiva. Com o passar do tempo, os testículos vão diminuindo de tamanho e chegam a desaparecer, e o animal não produz mais espermatozoides e nem testosterona. 

Saliento que as nano partículas sozinhas, sem a aplicação do campo magnético ou da luz, não têm efeito nenhum sobre a espermatogênese ou a integridade dos testículos. É preciso associar a injeção de nano partículas à fonte de energia (magnética ou luminosa) externa. Também é importante ressaltar que o método é seguro para a saúde dos animais, não tendo produzido efeitos colaterais imediatos e nem tardios nos animais tratados.

 

O cachorro castrado se torna menos territorialista e adota um comportamento mais tranquiloA castração de gato macho ajuda a diminuir as fugas e voltinhas pela rua

 

PDC: O método de castração não-cirúrgica é feito apenas em animais do sexo masculino. Existe alguma possibilidade de, futuramente, isso abranger as fêmeas?

 

CL: Este método baseado em hipertermia mediada por nano partículas é só para machos, devido à característica de sensibilidade ao calor que os testículos apresentam. Então, não se aplica às fêmeas. Outro método teria que ser desenvolvido para as fêmeas, considerando as especificidades da gônada feminina e também o fato de os ovários se localizarem dentro da cavidade abdominal.

PDC: Mesmo sem a cirurgia, é necessário anestesia geral para castrar cachorro ou gato nesse método? Há algum risco?

CL: Nós utilizamos anestesia geral. Os riscos são apenas aqueles inerentes ao processo de anestesia em si. Para os gatos, faremos uma sedação prévia dos animais, diminuindo o requerimento de anestésico geral, o que reduz ainda mais os riscos.

PDC: Existe alguma contraindicação ou condição de saúde que impeça o método de castração de animais não-cirúrgico?

CL: Apenas as condições de saúde que seriam impeditivas para qualquer procedimento, por mais simples que seja. Se o animal estiver doente, ele deve se recuperar antes de ser submetido a qualquer procedimento, seja ele cirúrgico ou não. Além disso, animais que tenham problemas como tumores de testículo ou de próstata, ou criptorquidismo, devem continuar sendo castrados pelo procedimento cirúrgico.

PDC: Em questão de custo e cuidados, quais as vantagens que essa metodologia oferece?

CL: Como ainda é um procedimento experimental, não temos o valor exato de quanto vai custar a aplicação do método desenvolvido. Provavelmente será mais barato que o cirúrgico pela simplicidade do procedimento e por não precisar de ambiente cirúrgico (sala e instrumental cirúrgico estéreis).

Em relação aos cuidados pós-castração, esta é realmente a maior vantagem do método, pois por não ser cirúrgico não exige acompanhamento posterior. No procedimento cirúrgico, o animal precisa tomar antibióticos, anti-inflamatórios e analgésicos por um período de 7 a 10 dias, e ao final precisa retirar pontos. No procedimento não-cirúrgico estes cuidados não serão necessários. O animal recebe uma dose de analgésico e anti-inflamatório no momento do procedimento e não precisa de acompanhamento posterior.

PDC: Qual foi a sua motivação para desenvolver essa pesquisa e como isso pode ajudar animais de rua e abrigos?

CL: Minha motivação foi justamente o grande número de animais abandonados que vemos pelas ruas. Estes animais se reproduzem, aumentando cada vez mais a população de animais errantes. Isso tanto é triste do ponto de vista do animal, que sofre nas ruas, como é um problema de saúde pública, pois estes animais sem dono podem transmitir doenças e causam problemas urbanos como espalhamento de lixo, acidentes de trânsito, brigas e agressões, e também é um problema ambiental, porque animais de rua, especialmente gatos, caçam pequenos animais silvestres. 

Infelizmente, não existem adotantes pra todos os animais que vivem nas ruas. Então, o método desenvolvido pode ajudar muito a diminuir a população de animais errantes, impedindo sua reprodução. 

Pela simplicidade e por não necessitar de ambiente especial pra ser realizado e nem de acompanhamento posterior, o método desenvolvido permite a castração de um grande número de animais, e pode ser associado ao sistema C.E.D. (captura, esterilização e soltura), onde os animais são castrados e devolvidos às ruas. Este sistema (C.E.D.) promove uma desaceleração do crescimento da população de animais de rua e a médio prazo sua redução, e tem sido adotado em muitos países. Para abrigos, onde muitas vezes há um grande número de animais, este método também pode ser bem interessante, já que os cuidados e possíveis complicações pós-operatórios gera custos e trabalho extra. 

Redação: Juliana Melo